Existe um comportamento humano que culturalmente é aceito e muitas vezes incentivado, mas que considero um “câncer” dentro da empresa e da sociedade.
Trata-se do comportamento do “Tirar o seu da reta”.
É um comportamento natural do ser humano que Sigmund Freud, pai da psicanálise, deu o nome de Mecanismo de Defesa. São comportamentos, conscientes ou inconscientes, que o sujeito faz para se proteger da censura externa ou punições.
Não vou entrar em detalhes Freudianos, pois não é meu objetivo. Neste artigo quero mostrar como este mecanismo de defesa traz prejuízos às empresas de todos os segmentos, e como os líderes podem diminuir o impacto deste comportamento.
Para isto, deixe-me contar uma história:
João é o supervisor de uma loja de calçados e uma de suas responsabilidades é cuidar da folha de pagamento da equipe. Certa vez, um dos colaboradores pediu demissão no quinto dia do mês, elaborou a carta de demissão e entregou ao João.
João por sua vez, devia enviar a carta de demissão e o cartão de ponto do colaborador à contabilidade e esta, pagar a rescisão ao colaborador no dia 15. Mas por obra do acaso, o dono Lucas, estava na loja naquele dia e João entregou a papelada ao Lucas. Mas Lucas não tinha conhecimento dos procedimentos de desligamento, afinal, ele tinha contratado João justamente para cuidar disso, e João engavetou os documentos.
No final do mês, dia 30, João pegou a documentação de toda a equipe mais o do colaborador que se desligou e enviou à contabilidade. A contabilidade viu a data e avisou ao Lucas que a empresa teria que pagar uma multa de um salário a mais ao colaborador desligado.
Lucas, como um dono de negócio correto, pagou a multa, e como líder foi investigar a ocorrência junto ao João para tomar as providências para não ocorrer novamente.
Lucas chamou João para sua sala e um tom calmo e respeitoso perguntou:
— João, você está sabendo da multa que teremos que pagar devido ao problema de não termos entregado a documentação dentro do prazo. Como podemos resolver o problema para não acontecer novamente?
João, como um chefe e funcionário tradicional, foi logo se justificando:
Infelizmente, este tipo de amador tem aos montes nas empresas, e na sociedade, travando os processos, trazendo prejuízos e não promovendo melhorias. Isso acontece porque o instinto humano é de procurar culpados ao invés de procurar responsáveis. Isto acontece também porque ainda temos por aí muitos chefes e poucos líderes.
Lucas, ao invés de retrucar João, acusando-o por não ter feito a atribuição dele, calmamente disse ao João:
— João, eu não estou te culpando pelo ocorrido. Entendo que simplesmente foi uma falha de comunicação entre nós. Estamos conversando para ouvir sua sugestão para melhorarmos o processo e nos responsabilizarmos para o problema não se repetir.
João, por sua vez, se mostrou irredutível e continuou se defendendo e procurando alguém para colocar a culpa.
— Mas isso não foi culpa minha mesmo, pois entreguei a documentação ao senhor.
Lucas continuou a acalmar e trazer João à razão por mais de vinte minutos até que João se desarmou, compreendendo que Lucas, não buscava um culpado pelo problema e sim, um responsável pela solução.
Quando João finalmente entendeu isso, reconheceu sua parcela de responsabilidade junto com Lucas, conseguiram analisar friamente a causa do problema. Resumidamente era a falta de papéis e responsabilidades claras e específicas sobre desligamentos. Visto isto, chegaram ao consenso sobre o plano de ação para resolver de vez o problema.
Este exemplo é um típico caso de profissional que se esquiva de suas responsabilidades (João), pois pensa que se passando a bola para o chefe ou outra pessoa, acabou a história. O outro que se vire com o problema.
Pensa ainda que o outro só quer colocar culpa nele, pois ele se comporta da mesma maneira colocando a culpa nos outros.
Infelizmente, este tipo de amador tem aos montes nas empresas, e na sociedade travando os processos, trazendo prejuízos e não promovendo melhorias. Isso acontece porque o instinto humano é de procurar culpados ao invés de procurar responsáveis. Isto acontece também porque ainda temos por aí muitos chefes e poucos líderes.
Chefes ultrapassados estão sempre caçando culpados internos e externos pelas suas mazelas, erros e insucessos. São os subordinados, os colegas, o chefe, ou ainda culpa a economia, a política, o concorrente, e muitas outras desculpas.
Se o chefe só procura culpados, como espera que a equipe seja pró-ativa e responsável?
O líder, em contrapartida, tem a postura de entender qual o seu papel dentro do contexto geral da situação. Assume responsabilidade pela consequência de suas ações e não-ações, além de se responsabilizar pela solução de problemas e melhorias em sua vida e em seu ambiente de trabalho.
O líder, através do seu exemplo de buscar responsáveis, transforma pessoas em equipes auto-gerenciáveis, verdadeiramente pró-ativas e que promovem a melhoria contínua.
Resumidamente a grande diferença é que Chefes caçam culpados pelos problemas, enquanto Líderes procuram responsáveis pelas soluções.
Aqui na Yamá – Escola de Líderes, orientamos e formamos líderes que se responsabilizam pelo seu auto-desenvolvimento e auto-contribuição para a melhoria de seu meio ambiente pessoal, familiar, profissional e social.
Acreditamos que construindo Líderes melhores, construiremos uma sociedade melhor.